CANTO V. A PRIMAVERA púdica s'esconde Do audaz ardor com que a persegue o Estio. As horas inflammadas madurecem Os varios fructos que dos troncos pendem: As pétalas inuteis o Sol cresta, De novo traje os campos se revestem. O Rei dos Astros com giganteo passo, Com affavel sorriso se despede Desses dois Argonautas, que alternados (1) Gemem no Averno, ou que no Ceo scintillam. Altiro se adianta, e da Balança Os pesos, que equilibram o Universo, Com podêr invencivel verifica. Então o nono mez, com serio aspecto, Do anno, que declina, o termo avista. Na estação em que prodiga a colheita Julguei-me nas espheras collocada, Onde em constellações brilhantes moram Nymphas, Heroes, que a terra produzira. Nos atrios, onde Astréa reluzente A innocencia protege, me sentava: Quando em carro lustroso avisto perto A Nympha que ultrajou de Cinthia os ritos, (2) E qual ursa feroz bramio na terra. Já compassivo Jove, e poderoso, Lhe tinha restaurado a forma bella; E o rico manto azul que a revestia Era d'estrellas todo salpicado. Em ponto mais pequeno, e d'igual forma, O filho junto della reluzia. Dos espaços immensos despedido, « Quem és tu, temerario? Qual destino O magestoso sêr assim replica: (*) Allusão ao Cometa de 1812. « Nympha gentil, a quem erros ditosos « Egeria! oh Ceos! (então Calisto exclama) O teu caminho segue, Nympha austera ; Precipita essa rapida carreira; Foge de mim: o Fado não consente Á virtude venturas como ao crime. Eu sou constellação; tu astro errante; Bem que astro sejas, teu aspecto assusta... >> Acordei revoltada co' a injustiça Possivel, bem que alli fosse chymera; Mas os serenos Ceos me consolaram. Vi para o norte esse astro vagabundo (*), Cujos cabellos soltos e luzentes A noite adornam: vi esses diamantes Que o Firmamento escuro cravejando São do Astronomo estudo e são recreio, E a terra instruem do podêr divino. () O Comcta de 1812. Esperei a manhà; e contemplando Como a Deos tudo é facil! Como brinca Co' a materia creada, e formas della ! Magnifica, resume, estende, ou coarcta: Mas brilha em tudo a dextra omnipotente. Difficil é na extensa Syngenesia O Malmequer, que os prados hoje esmalta, Da congeneração mostra o modelo. Quantas flores contêm, fingindo-se uma! Todas completas com pistillo e germe, Estames e semente; e tão perfeitas Quaes essas em que Flora mais se esmera. Esses pontinhos que no centro moram, As pétalas que o disco circunserem São tudo semi-flores na primeira : As flores flosculosas ás quaes falta A pompa da corolla, ou semi-flores, São differentes, são menos ornadas; Porém rica a segunda secção fazem. · Qual cercando um palanque ás vezes vemos Na terceira secção sempre no centro (.) Allusão ás eleições dos membros do Parlanıenlo em Inglaterra.. |