Page images
PDF
EPUB

Delicias dos mortaes! antes que o luxo
Os primitivos gostos transtornasse!
Em vós pasto, sciencia, divindades
A raça humana simples encontrava.
Vós, nove Irmãs divinas! cujo fogo (27)
Arde em minha alma: vós, que podêr tendes
De fazer-me esquecer quanto me mata!
Brindai-me co' as visões da idade d'ouro:
Emprestai-me esse dom que persuade,

Que deparaste a Orpheo, que a Lino déstes: (28)
Alcançarei que o amor da Natureza

Nestes meus versos fique hereditario.

Foge, Henriqueta, foge das cidades,
Onde oppressivas leis da Moda absurda
Agrilhoam o ingenho, apagam a alma.
Tudo é ruido alli, tudo é tumulto.

Lá sem riqueza é nulla a intelligencia :
E sem a intelligencia, a pompa, o luxo
São crespo fumo que dissipa o vento.
Os thesouros ao rico nunca bastam:
Quer sempre alem daquillo que consegue;
E o que consegue é quanto pésa e vale
Um só metal, dos muitos que Deos cria.
O pobre inda é mais pobre entre estes ricos:
O sabio é como um fructo que não medra,
E que as formigas avidas devoram.

0 que a Moda dictou, é lei dos loucos
Que contradiz as leis da Natureza:
É como a nevoa densa em que se envolve
O monte, o rio, o prado, as maravilhas
De toda a Creação: opaca a Moda
Esconde tudo o que a razão nos mostra.

Quanto padece o ingenho, quando afouto
Os seus ferros sacode, e vencer tenta,
Com heroico valor, a errada meta

Que lhe fixou essa Deidade injusta!
Anda só pelo mundo, vagabundo:
Excede quanto pensa o que outros pensam;
E não lhe cabe a propria intelligencia.
Mas nestes ermos, onde tudo indica
Ordem, poder, razão, omnipotencia,
O pensamento cresce, o peito adora
Um bem que farta todos seus desejos.

Vê como a Vaga o meu retiro enfeita. (29) Esses broncos rochedos, que forçosos

A corrente anteparam, são vencidos
Pela argentina lympha que os abraça.
Alli, banhando o pé de um bosque extenso,
Dissolve a resistencia; e, serpeando,
Precipita a carreira; escuta, e segue
O rouco murmurío do Saverno:

Com elle, afouta, os seus cristaes confunde.
O altivo rio então c'o mar compete;
E nas plagas aquaticas entrando,

Aos attonitos olhos não declara

Se é como vencedor ou tributario.

Tagides minhas! Não julgueis que a Vaga

Modera em mim a furia das saudades:

O patrio rio, os muros desgraçados
Onde nasci, e que fundara Ulysses, (30)
Teem-me n'alma um lugar que ninguem toma.
Foi lá que este calor vital que sinto
Teve a calida origem; de lá veio

Este humano sentir que abrange as penas
Alhêas, proprias; gera o dó: virtude
Que os paizes gelados mal conhecem :
(Mas que preservam, qual de Vesta a pyra,
Os Bathursts piedosos, nos seus lares) (31)
Lá carinhoso Sol, abrindo as flores,
Com magicos matizes e perfumes,
Me convidou a ser cantora dellas.

Segue meus passos, filha: flores, prados, Rios, montanhas, rochas, arvoredos São dignos da razão, dignos do estudo: Impoem silencio à corrupção do mundo, E avisinham do Auctor da Natureza.

ARGUMENTO DO II. CANTO.

C

ONVITE a Frederica para estudar as plantas. - Phebo, e os effeitos da luz sobre a terra - Estudo da flor, definição della, folhas, raizes, sua origem, suas varias formas1. Classe de Linneo-2.a Classe-Modo de distinguir dez Classes mais A Circéa, o Jasmineiro, a Verbena — O tumulo de Virgilio - 3.a e 4. Classes-A Madre-silva e as HerasA Previnca, e Rousseau—6.a e 7. Classes-8.a Classe — A caça, as alléas de Schombrun, e Maria Thereza - Flores d'Almeirim Platanos Carvalhos - 9. Classe

[ocr errors]

a

[ocr errors]

Episodio de Daphne, transição da Mythologia á verdade-10.* Classe Visão de Linneo- Dodecandria -- Convalescença.

« PreviousContinue »