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Teu 'spectac❜lo é o mal, victima tua
O homem: com teus olhos penetrantes,
Como os de Satanaz, medes o abysmo
Que não tem margens perto, nem distantes.

Nesse golfo tua alma se mergulha;
Longe da Divindade o erro te lança,
Longe da luz; e então adeos eterno,
Affouto e cego, dizes á esperança!

Bem como Satanaz, reinas em trevas;
Com modulação aspera, illusoria,

Teu ingenho invencivel triumphando,
Cantas ao deos do mal o hymno da gloria.

De que serve luttar contra o destino?
Que te alcança a razão amotinada?
Limitado horizonte tem os olhos,
Como elles a razão é limitada.

Nem aquelles nem esta ao longe leves:
Tudo foge e se extingue alem da meta;
Neste circulo estreito, imprescriptivel,
Quem te creou o teu lugar decreta.

Como? porque motivo?... Quem o sabe?
Quem póde investigar esses arcanos?
Da sua mão fecunda, omnipotente,
Deixou cair o mundo e os humanos,

Comme il a dans nos champs répandu la poussière,
Ou semé dans les airs la nuit et la lumière;

Il le sait, il suffit: l'univers est à lui,

Et nous n'avons à nous que le jour d'aujourd'hui! Notre crime est d'être homme et de vouloir connaître:

Ignorer et servir, c'est la loi de notre être.

Byron, ce mot est dur: long-temps j'en ai douté;
Mais pourquoi reculer devant la vérité?
Ton titre devant Dieu c'est d'être son ouvrage;
De sentir, d'adorer ton divin esclavage;
Dans l'ordre universel, faible atome emporté,
D'unir à ses desseins ta libre volonté,
D'avoir été conçu par son intelligence,
De le glorifier par ta seule existence.

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Assim como espalhou o pó nos campos,
A luz, a noite semeou nos ares;

Elle o sabe, isso basta: o mundo é d'elle,
Só tens de teu o dia em que te achares.

Ser homem, e querer saber é crime:
Ignorar e servir é lei severa,

Mas lei do nosso sêr. Dura verdade!
Soffre-a, ó Byron, pois sobre nós impera.

Tambem eu duvidei por largo espaço;
Mas que razão tão forte ha que te obrigue
A recuar á vista da verdade,

E o clarão da evidencia te mitigue?

O teu titulo é seres obra sua;
É sentir, adorar a dependencia,
A escravidão divina, que submette
O teu sêr á Suprema Intelligencia.

Na ordem natural atomo fragil,
Por incognita força conduzido,
Toca-te o ter a seus altos designios
O teu livre alvedrio submettido.

Concebido por Deos desde o principio,
Formado pela sua intelligencia,
Deves glorificá-lo, consagrar-lhe
Com terna submissão tua existencia.

Voilà, voilà ton sort. Ah! loin de l'accuser,
Baise plutôt le joug que tu voulais briser,

Descends du rang des dieux qu' usurpait ton audace:
Tout est bien, tout est bon, tout est grand à sa place;
Aux regards de celui qui fit l'immensité

L'insecte vaut un monde: ils ont autant, coûté!

Mais cette loi, dis-tu, révolte ta justice;
Elle n'est à tes yeux qu'un bizarre caprice,
Un piège où la raison trébuche à chaque pas.
Confessons-la, Byron, et ne la jugeons pas.
Comme toi, ma raison en ténèbres abonde,
Et ce n'est pas à moi de t'expliquer le monde.
Que celui qui l'a fait t'explique l'univers.
Plus je sonde l'abîme, helas! plus je m'y perds.
Ici-bas, la douleur â la douleur s'enchaîne,
Le jour succède au jour, et la peine à la peine.
Borné dans sa nature, infini dans ses vœux,

Eis-aqui tua sorte: não o accuses;
Beija o jugo que espedaçar intentas ;
Desce do grão dos deoses, que pertendes
Usurpar com razões que audaz inventas.

Tudo quanto Deos fez, tudo é prodigio, Tudo está bem, é bom, digno de espanto; Em ordem tudo o seu lugar occupa;

O insecto vale um mundo, e custou tanto,

Mas dizes que a justiça se revolta
Co' esta lei; e a teus olhos simples laço
quanto n'ella vês, capricho, enredo
Em que a razão tropeça a cada passo.

É

Confessemos a Deos, não o julguemos. Minha razão, e a tua, abunda em trevas; Não nos pertence a explicação do mundo, A tão audaz empreza não te atrevas.

Quem creou o Universo que t'o explique. Quanto mais sondo o abysmo, menos vejo; Byron! nelle me perco, e não alcanço Descobrir o que busco, o que desejo.

Na terra a dor co' a dor mais se encadêa,
Succede o dia ao dia, a pena á pena;
Curta por natureza, extensa em votos
É dos mortaes a condição terrena.

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