CANTO VI. Fate and dooming Gods are deaf to tears. Dryden, Æneis L. 6. v. 512. 0 MATINAL vigor foi desatando Momento, que aos ditosos tanto alenta ! As Musas generosas já me tinham A teu favor, oh Lilia! oh sombra! oh filha! Tinha apanhado as flores com que havia Prolongar-te a existencia, dar-te premio. Tempos de horror, que em crueldade excedem Esse barbaro tempo onde na praia Andromeda, a um rochedo agrilhoada, (2) (Para pasto de um monstro) espera a morte ! Hoje não ha Perseos; monstros devoram Sem obstac'lo a innocencia, a formosura: Surda Justiça os monstros nutre, applaude; E da materna dor o crime zomba. Surda Justiça! com teus raios brincas ? O seu e o meu incenso alem dos mares. Oh Fado cego! Ob presumpção feminea ! Oh paixão de heroismo malfadada, Que tão pouco na terra se avalia .... Mas tu, Nume enganado, não presumas Os semi-deoses honram sempre os Deoses: São os filhos da terra, os Encelados, Os Typheos, Geryões, e outros Titanos, (6) Que accumulam os montes sobre os montes, Trepam o Pelion, contra o Ceo conspiram. O Ceo estupefacto a audacia admira: Sem pontaria as igneas frechas vibra: O forçado relampago fusila : Porém o raio incerto serpeando Os malvados evita, e os bons aterra .... Tal me vejo qual vio esse insensato (6) Que ao mundo ingrato trouxe a luz e o fogo, Cujo crime foi ver alem da meta Que prescreve a ignorancia: odio, vingança As vulcaneas cadeas me lançaram. Fixa na ingleza rocha, aqui supporto Novos tulões dos ventos furiosos, E os turbilhões de area com que açoita Em vão pergunto aos astros onde escondem Quem á Patria languente alento dava; Qual nume despiedado ao Luso usurpa Seus Chefes naturaes, os seus Achilles ! Tu, intrigante Sorte, horrido Fado! Complice da maldade, assim decretas. Assim Juno indiscreta n'outras lides Salvou Turno dos golpes do heroe Phrygio, (7) E o Dauna illustre tarde vio o engano. Longe dos seus, co' a fama equivocada, De uma ingrata suspeita objecto odioso, Vagando pelo mundo, os Ceos argue De tão barbara força, derivada Das mesmas leis crueis que impunha o brio. Ab! quando acabarão penas tão grandes ? Pergunta inutil... A esperança frouxa Nem se atreve a nutrir uma chymera: Minba sorte sutura, qual Medusa, (8) A petrifica, a vence, a desanima... Em vão mysteriosa a Cryptogamia (9) (*) Estes versos foram escriptos em Dezembro de 1812. Que em subterraneas luttas ronca e treme, Esta Classe não tem flores visiveis; Tudo é segredo nella, o nome o indica: (10) Da fructificação pouco se sabe; Nos generos que teem não se percebe, Em muitas, de que modo fructificam. Estames nem pistillos manifestam, Como ao principio n'outras Classes, ordens: Mas na estructura destas plantas temos Indicios de que as ordens sejam quatro; E as feições que lhe achar irei pintando. Os Fetos ou Filices (taes lhes chamam D'outra ordem são os Musgos: tenues fios Vem do seio das folhas, terminados Por mui pequenos corpos, como antheras. Myope, qual me fez a Natureza Para encarar melhor da Musa o rosto, E soffrer seus luzeiros como Homero, |