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IDYLLIO.

V1

Daphne.

sobre as margens de um rio

Vir Daphne, linda pastora,
Mais bella que a estrella d'alva,
Mais engraçada que a aurora.

Levantou co' a mão mimosa
A borda do seu vestido;
Descalçou os pés de neve,
E entrou n'agua com sentido,

Abaixou-se, e foi banhando
Co' a mão direita o seu rosto,
Onde as Graças generosas
Seus thesouros tinham posto.

Em quanto a mão gotejava
Parou; e como paravam
As aguas tambem, foi vendo
Que fieis a retratavam.

Sorrio, vendo-se tão linda;

Mas eu então suspirei...

Tão estudado atavio

Para quem será? - não sei...

Tornou a mirar-se na agua,
E dando um leve tregeito,
O ramalhete de flores
Na agua lhe caio, do peito.

Veio nadando, apanhei-o:
Feliz queda! feliz banho!
Dei-lhe mil beijos, e agora
Não o dou por um rebanho.

Seu doce cheiro conforta,
Encantam-me as suas cores;
Nenhumas na Primavera

O prado adornam melhores.

N'um vaso, premio do canto
Que eu ganhei contra Dametas,
O puz; vê-se ali gravado
Amor aguçando as settas.

Duas rolas carinhosas
Compoem a corte de amor;
Porêm o Deos ameaça
Os corações com rigor.

Ha dois dias que possuo
O encantador ramalhete;
Estremeço quando penso
Que mal póde durar sete.

No dia o régo tres vezes,
Á noite o ponho ao sereno;
Porém flores pouco duram
Fóra do proprio terreno.

Ai de mim!... as flores murcham:

As

que alcancei vão murchando; Já descoram, já não cheiram, Vão-se todas desfolhando...

Em vão busco na esperança
Soccorro que me conforte:
Cruel Amor! será isto

Presagio da minha sorte?...

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